quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Verba para energia limpa precisa dobrar


As grandes economias do mundo têm até 2012 para começar a investir US$ 18 bilhões por ano em energia limpa -o dobro do que se gasta hoje -, se quiserem montar um cardápio energético mais sustentável.

A estimativa faz parte de um relatório divulgado em 23 de outubro, feito por 15 especialistas de vários países, a pedido do InterAcademy Council, órgão que reúne as principais academias de ciência do mundo. José Goldemberg, físico da USP, é um dos coordenadores do estudo.

"O relatório é técnico. Não tem nada de político. O documento mostra o que deve ser feito para que se possa ter uma matriz mais sustentável, o que ajuda também na questão da mudança climática", disse o especialista em energia à Folha. Tanto o álcool brasileiro quanto a energia nuclear são tecnologias aprovadas, mas com ressalvas.

O texto já foi apresentado tanto ao ministro de Ciência e Tecnologia do Brasil, Sergio Rezende, quanto ao primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao. O outro coordenador do estudo é Steven Chu, cientista de origem chinesa radicado nos Estados Unidos. A proposta agora é fazer a ONU (Organização das Nações Unidas) abraçar a idéia.
Basicamente, explica Goldemberg, a eficiência energética e uma maior distribuição de energia são os grandes desafios das próximas décadas.

"Os países desenvolvidos, e também o Brasil, têm muita gordura para queimar em termos de energia, sem prejudicar a qualidade de vida das pessoas", afirma o pesquisador.

Os dados do relatório ajudam a ilustrar algumas discrepâncias em termos de consumo energético. Os norte-americanos precisam de 14 megawatts/ hora por ano para sobreviverem. Os europeus conseguem manter seus padrões de vida usando metade disso.
Considerada o grande problema energético do planeta devido a seu crescimento acelerado à base de carvão, a China também tem cura: só modernizando suas termelétricas, o gigante asiático cortaria 30% das suas emissões.

"No Brasil, por exemplo, o governo deveria criar medidas mais eficazes de eficiência energética", concorda Goldemberg. Para o professor, assim como ocorre na Califórnia (EUA), deveriam ser criadas exigências mais rígidas para os fabricantes de eletrodomésticos. "Por que não estabelecer limites de consumo para geladeiras ou lâmpadas?"

O mercado global de carbono também é apontado como uma solução para a crise energética. Os créditos de carbono poderiam bancar parte do desenvolvimento tecnológico necessário para "limpar" o planeta, mas com um porém: o preço da tonelada de carbono deveria ser de US$ 27 a US$ 41 (hoje ele está mais perto de US$ 10).

Luz para todos
Segundo o brasileiro, o outro assunto delicado é o dos chamados excluídos energéticos.

"Temos no mundo hoje 2,6 bilhões de pessoas que não têm acesso à energia elétrica ou geram energia apenas a partir de métodos arcaicos, como a queima de madeira."

De acordo com Goldemberg, colocar essas pessoas no mercado energético não só é possível como também não vai causar tanto impacto no clima: a "inclusão energética" custaria apenas US$ 50 bilhões e aumentaria as emissões de carbono de 1% a 2%.
As informações são da Folha de S. Paulo

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