quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Metade da Amazônia pode cair até 2030

A mudança climática e o desmatamento já estão empurrando a floresta amazônica rumo à transformação em savana, e até 2030 metade da mata será derrubada, explorada por madeireiros ou afetada pela seca. A previsão é de um relatório feito por um dos maiores especialistas em ecologia amazônica, o americano Daniel Nepstad.

Intitulado "Os Ciclos Viciosos da Amazônia", o documento, encomendado pela ONG WWF, tem dados científicos novos e um objetivo político: levar a agenda da redução das emissões por desmatamento (REDD, na sigla em inglês) para as negociações do acordo que substituirá o Protocolo de Kyoto após 2012. Espera-se que a COP-13, a Conferência do Clima de Bali, aborde isso, e que a manutenção da estabilidade do clima pela conservação de florestas entre na pauta.

Mas mesmo a delegação brasileira, maior interessada em incluir a redução do desmatamento no acordo, parece ter posição contraditória. Apesar de o governo já ter manifestado a vontade de ver um fundo de compensação por desmate reduzido funcionando antes de 2012, membros da delegação têm expressado dúvidas.

Na terça, Thelma Krug, secretária brasileira de Mudanças Climáticas, havia dito que era "prematuro" incluir florestas no acordo -foi corrigida ontem pelo chefe da delegação, Luiz Alberto Figueiredo Machado, para quem a secretária fora "infeliz" na colocação.

Logo depois, Sergio Serra, embaixador extraordinário para mudança do clima, disse que o Brasil não quer ver as florestas na negociação. "Para a delegação brasileira, Bali não é o fórum de discutir se floresta entra ou não." Para ele, é uma "reunião de processo", ou seja, não define modos de ação.

Cenário apocalíptico

O relatório do WWF dá um tom de urgência ao debate ao afirmar que o ponto de não-retorno da Amazônia --ou seja, o momento a partir do qual a floresta se transforma em savana e não volta mais- pode estar mais perto do que se pensava.

Até agora, modelos de clima e de vegetação têm mostrado que o colapso da floresta deveria acontecer só depois de 2080. Cruzando um modelo de desmatamento com novos dados sobre exploração madeireira e sobre chuvas ao longo dos últimos dez anos, além de tendências recentes de expansão da cana, da soja e da pecuária, Nepstad produziu o que ele chama de "um dos piores cenários que eu já vi em 23 anos de Amazônia": a savanização ocorrendo nos próximos 15 a 25 anos, com a emissão de 15 a 25 bilhões de toneladas de carbono até o final do período --algo como quatro vezes o que o Kyoto se propôs a cortar.

A seca prevista para a Amazônia pode já ter se instalado. No nordeste de Mato Grosso, onde Nepstad mantém um projeto de pesquisa, 2007 foi um ano atípico, muito seco e muito quente. '"Normalmente faz 32C na sombra da mata no verão [época de seca]. Neste ano fez 38C", diz. A fumaça das queimadas pode estar colaborando para secar a floresta, ao inibir a formação de nuvens.

Nepstad assume que os cenários propostos por ele --a área desmatada crescendo de 17% para 31% e a área seca ou danificada pelo corte seletivo chegando a 24% da mata-- são parciais, baseados em só cinco anos de dados de desmatamento e dez de precipitação. Mas afirma que "em vários sentidos o relatório é conservador".

Políticas como a REDD poderiam ajudar a evitar a catástrofe. Com ela, seria possível, por exemplo, pagar pecuaristas para não desmatarem.

"Duas faces"

Em referência à cobrança para o Brasil reduzir suas emissões, o chanceler Celso Amorim disse ontem que países ricos possuem "duas faces".

"Há uma face de bom moço, de quem está defendendo as causas benéficas para o mundo [o ambiente], e uma face, que em geral fica escondida, que é a face protecionista", afirmou, aludindo às tarifas sobre biocombustíveis e à pressão da Europa de exportar pneus reformados. "É preciso saber com que voz eles falam na Conferência de Bali e com que voz eles falam na OMC [Organização Mundial do Comércio]."

Folha de S.Paulo

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Parque eólico de Osório obtém licença ambiental para duplicar produção

Um ano depois de entrar em funcionamento, o Parque Eólico de Osório (Rio Grande do Sul), o maior da América Latina, recebeu licença ambiental para duplicar sua capacidade de produção de energia.

A concessão da licença é o primeiro passo para a ampliação do projeto no estado do Rio Grande do Sul, explorado pela Ventos do Sul Energia, uma empresa que tem como sócios o grupo Elecnor (majoritário, 91%) - através de sua filial Enerfin Enervento - e a Wobben Windpower (9%), filial da alemã Enercon.

O primeiro ano de funcionamento das 75 turbinas eólicas foi comemorado na sexta-feira em Osorio com um ato ao qual compareceram a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro de Minas e Energia, Nelson Hubner.

Além deles, também estiveram presentes o diretor-geral da Enerfin Enervento, Guillermo Planas; e o diretor de Indústria e Energia da Xunta (Governo) da região espanhola da Galícia, Anxo Calvo.

Planas destacou que o projeto, concluído em dezembro de 2006, dentro do prazo previsto, e situado no município de Osório, cerca de 80 quilômetros do Porto Alegre, superou as projeções, com uma produção de 515 milhões de quilowatts hora.

"Longe de ser um ponto final, queremos que o parque seja o início de novos projetos", disse Planas.

A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) acaba de outorgar a licença prévia para o desenvolvimento de uma segunda fase.

Segundo a ministra Rousseff, o parque é resultado da "colaboração bem-sucedida" entre os setores público e privado, que "tornaram realidade o sonho de um parque eólico com tecnologia de ponta, feito com sofisticação e respeito ao meio ambiente".

A ministra agradeceu a aposta da companhia espanhola no Rio Grande do Sul para construir o parque e por "permitir a concretização do compromisso do Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em promover as energias alternativas e renováveis".

O Governo considera prioritárias as fontes alternativas, limpas e renováveis, além da diversificação de energias, como a biomassa, o etanol e o biodisel.

O Parque Eólico de Osório é na realidade um complexo de três parques - Osório, Sangradouro e Índios -, constituídos por 25 turbinas aerogeradoras cada um, de 2 megawatts (MW).

O parque é o resultado de um investimento de R$ 670 milhões e é capaz de produzir energia suficiente para cobrir o consumo residencial de 650 mil pessoas por ano.

Com uma potência instalada de 150 MW, os parques eólicos de Osório são uma mostra do rendimento que a energia eólica poderá ter no Brasil, segundo Planas.

A "Ventos do Sul" representa metade da energia eólica gerada no país, mas, segundo o Atlas de Potencial Eólico brasileiro poderá alcançar os 143 mil MW.

Atualmente, há 85 mil turbinas eólicas em operação no mundo. A Alemanha lidera a lista de países produtores da energia (16% do total produzido), seguida de Dinamarca (12%), Estados Unidos, Índia e Espanha.

A Europa lidera o mercado eólico, com uma cota de 65%, mas poderá ser superada dentro de pouco tempo pelos Estados Unidos, enquanto a região ibero-americana representa apenas 0,7% desse mercado.

No entanto, a energia eólica é a fonte de maior crescimento no mundo, com taxa anual de 28,6%.

Segundo Planas, o Brasil é um país que precisa diversificar suas fontes energéticas, já que sua rede atual depende em grande medida da hidráulica, e tem um grande potencial de explorar a eólica, que não é poluente.

Em um ano, o parque de Osório evitou a emissão de 148.325 toneladas de CO2 à atmosfera, o consumo anual de 36.500 toneladas de petróleo e de 41,2 milhões de metros cúbicos de gás natural, segundo os diretores das instalações.
UOL